terça-feira, 13 de maio de 2008

Abril em Maio: a “rola pousada no ombro de África” ou a secreta magia de Tânger

Apontamentos breves a viajar pelo Sul




Málaga e o Mediterrâneo

Comi sardinhas na praia, numa tasca ao ar livre, rodeado por uma fauna composta por turistas anglo-saxónicos e quadros superiores engravatados que nos seus fatos impecáveis usufruíam o Sol quente no período da siesta – da uma às cinco da tarde. Percebi melhor quando me trouxeram a conta. Mas que importava isso?! Estava a acontecer o meu reencontro pleno com o Mediterrâneo.









Começara com um passeio pela Alameda Principal, comendo nêsperas compradas no Mercado Central de Atarazanas, depois a Plaza de la Marna, a Avenida de Cervantes e o Paseo de los Curas, frente ao puerto. O Mar Mediterrâneo estende-se a perder de vista, azul esverdeado turquesa, este meu Mar milenar que tanto tem sido a bússola nas minhas viagens. Mas quando cheguei à praia fiquei emocionado, muito emocionado. Nesse momento em que dificilmente sustive as lágrimas, quis-te ali, comigo!...










Outro momento de muita emoção foi a subida, íngreme, sob um sol de fogo, a Alcabaza, iniciada por entre um lindo e suave jardim…





Tânger, a branca rola secreta










Estou sentado fumando e bebendo o delicioso chá de menta com hortelã no cimo de uma colina, da rola que está pousada no ombro de África. Tenho a Baía de Tânger a meus pés. Agora compreendo emocionado porquê talvez Tarik possa ter-se julgado frente à Atlântida.

















Levantou-se uma ligeira neblina frente a Gibraltar e a Tarifa. São quase cinco da tarde. Estou no Restaurante que tem a vista mais bonita sobre a Baía. Tem um certo ar colonial. É um local romântico, muito romântico.
Sou tratado como o Príncipe pelo empregado, que certamente adivinha que só aparentemente estou só. Quando me traz a conta recordo a deliciosa ementa: brouchettes de mouton. Hotel Dawltz. 110 dirhams. Dou-lhe mais 10. O preço de uma corrida de táxi.







Voltarei à Medina que percorri demoradamente horas a fio. Onde saboreei a secreta essência de Tânger. Onde me senti em “casa”, não obstante o meu ar demasiado claro, todavia sereno. Senti antes simpatia e sorrisos sinceros quando dizia ser português. Comprei tâmaras e depois de negociar durante quase meia-hora a aquisição de um objecto muito bonito, tirei todo o dinheiro que levava comigo e estava disposto a deixar um objecto pessoal - porque dali não saía sem a peça que queria muito – então o jovem artesão tiro-me delicadamente apenas o valor que me pedira, sorriu e… disse que era adepto do Porto - do Futebol Clube do Porto e… para eu ter cuidado para não me enganarem… quando afinal eu é que me enganara!
Percorri as praças, os terraços, os hotéis mais famosos e de subtil arquitectura e escultura, a Avenida cosmopolitas da Baía e Mohammed V… Adorei Tânger – cidade entre dois mundos. Mas nada comparável aquele dia em que estive na Medina… onde sei que vou voltar...






Como a Tétouan, ou aquelas aldeias perdidas algures nas montanhas do Rif, onde apenas passei…
Aquele restaurante mágico foi-me indicado por um empregado, vestido a rigor, do café de um cinema antigo – parecia regressado aos anos 50 - situado na praça que fica junto da magnifica Mesquita Sidi Bou Adib.



Nessa noite viajei para Sul e quando se aproximava a meia-noite, e no Gharb muitas vozes se uniam para cantarem a Grândola, eu, sem os meus companheiros de viagem perceberem, cantei para ti Cantigas do Maio









5 comentários:

Alexandre Júlio disse...

É Magrebinooooooo!

Isto é que foi apreciar o Norte de Africa, Ehhhh!

Também tenho um certo fascínio pelo povo Magrebino, pela sua cultura ancestral, pelo seu modo de vida, pelo seu jeito para o negócio, tenho que por lá passar qualquer dia.

Nem o Jericó se safou á tua Kodak, notei foi poucas fotos de Mulheres, aquelas Mouriscas lindas, na dança do ventre, ...

qualquer dia tenho que fazer um Raid por essas paragens.

Um Abraço, AP.

Bichodeconta disse...

Vinda directamente do blog do Alexandre, confirmo o que já foi dito e repetido.. O Alentejo é o melhor lugar do mundo.. Há lugares lindos mundo fora, gostaria eu de os visitar sem dúvida, Mas o regresso ao Alentejo é sempre mágico..Não vivo ai infelezmente, mas nunca vou conseguir fazer entender ao mundo esta minha perda... Voltar ao Alentejo é como voltar ao ventre materno.. Lugar sagrado, mesmo que nem sempre pela vida fora nos de colo.. DEIXO UM BEIJINHO E DEIXO A PROMESSA DE VOLTAR A ESTE ESPAÇO DELICIOSO.. Bom final de semana, Ell

perfume de laranjeira disse...

Pois é, amigo Alex
as mulheres destas paragens são de facto muito bonitas... têm uns olhos lindos... mas eu, que sou um marinheiro, um viajante... sou também um homem apaixonado e... atrevo-me a fazer minhas as palavras que há mais de 50 anos - mas que para mim não podiam estar mais actuais - escreveu António Joaquim do Carmo à mulher que adorava, Maria Catarina Eufémia Baleizão, que mais tarde havia de se torna, por circunstâncias tristes, é certo, um ídolo mas sobretudo uma referência de dignidade, frontalidade e coragem, em especial, para nós, gentes do Sul.

"Nunca duvides de mim que eu amo-te com toda a força da minha alma. Nunca poria outra no teu lugar. Estás fechada no meu peito e ninguém mo pode abrir, só tu e mais ninguém. (...) Um beijo. (...)"

Anónimo disse...

Duas palavras para bicho de conta. As minhas desculpas pelo atraso na publicação do comentário, motivado por um problema informático que atrasou a mensagem para eu publicar uma semana, inexplicavelmente.
Obrigado por saber, entender e partilhar a plenitude da Mátria Alentejana.
Obrigado ainda pelas amáveis palavras... é que eu não sei viver sem magia!...

ETERNA APAIXONADA disse...

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Ao vir comentar o post, deparei-me com sua resposta, que extraio aqui:"...é que eu não sei viver sem magia!..."
Disse tudo que eu queria!
Magia, uma das palavras-chave para um típico filho de Sagittarius, que leva à vida com ânsia de sonhar lugares amados, mesmo que nunca pisados...
Por favor, não pare de postar!
Faz bem à alma de quem te lê!!!

Abraços,
Helô

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