terça-feira, 14 de junho de 2011

Passeio Campestre... no mês das rosas!...

Nesta longa caminhada solar, neste caminhar para a manhã clara, neste percurso para o dia, luminoso e pleno, de repente percebemos que a ausência já vai longa, Maio, o mês das rosas ficou para trás e já estamos em meados de Junho. Maio passou num ápice; no dia 14, de que hoje vos damos conta aconteceu o VI Passeio Campestre, a 20 e 21 estivemos no Festival Islâmico de Mértola, respectivamente com o Colóquio "Almutâmide e o contexto literário do Garbe al-Andalus (2ª metade do séc. XI) em parceria com o Prof. Adel Sidarus na Feira do Livro e com o espectáculo "Festa Almutâmide da Poesia - Almutâmide, o Príncipe dos Poetas. De beja a Agmat" com o Eduardo Ramos, Rui Afonso, Elsa Shams e António Dias da Silva, no Teatro Marques Duque. A 27 e 28 de Maio estivemos novamente em Montemor, na organização das 1ªs Jornadas Literárias da bela cidade Alentejana: "A Poesia da terra em Monte Maior". No próximo dia 18 de Junho estamos no Auditório da Junta de Freguesia do Feijó, Almada, a partir das 10:15m a apresentar a próxima edição - nº duplo 29/30 da Revista Memória Alentejana, no âmbito de um Colóquio onde vão estar em destaque: "A água enquanto Direito Humano" e a "Etnomusicologia e o Cante". ÉPasseio nossa intenção ao longo dos próximos dias deixarmos aqui informação sobre estas actividades
Mas, apesar desta ausência longa de postagens, congratulamo-nos com as mensagens de antigos amigos (as) e a chegada de novos. A todos, Bem Hajam!

VI Passeio Campestre



Pela Ribeira de S. Cristóvão


Entre as Ervas Medicinais, o Moinho, a Moagem e o Cromeleque do Tojal


Com a participação de cerca de meia centena de pessoas, realizou-se no dia 14 de Maio a sexta edição do já tradicional Passeio Campestre, uma feliz conjugação de esforços do CEDA e da MontemorMel, que desde 2006 já possibilitou a algumas centenas de pessoas, montemorenses e forasteiros, mas todos e todas, amantes da Mãe-natureza e da fraterna comunhão com a Terra e a ancestral paisagem humanizada nos suaves e doces campos, dos cursos de água, apiários, melarias, moinhos de água e de vento, fabricas de cortiça, fornos de cal, menires, cromeleques, as ervas medicinais e a beleza dos suaves campos do concelho de Montemor Maior, onde seres humanos, animais e plantas coexistem em harmonia há milhares de anos.

Desta vez rumamos até S. Cristóvão e depois de uma visita ao menir e ao cromoleque do Tojal, guiada pelo arqueológo Mário Carvalho (da Ebora M egalithica) iniciámos um percurso junto à ribeira de S. Cristóvão que nos levou ao Moinho de Água de Henrique Gascon, recentemente recuperado, respeitando a traça original, actualmente a servir de habitação de férias e que este pretende pôr a funcionar em breve. Este referiu-nos como é auto-suficiente usando a água da nascente e a energia solar e como se delicia com o silêncio com cântico dos pássaros e o correr da água da ribeira. Foi precisamente junto à minúscula praia fluvial que nos deleitámos à sombra de uma enorme árvore e partilhando fruta, pão, vinho ou os famosos licores de mirtilo e poejo, o bolo com frutos secos, os peixinhos da horta da Ti’ Estina – uma presença já assídua nestes passeios – ou o bolo de mel da Nina Pirata, fizemos deste momento um especial momento de amizade e partilha.

Quem estava “com a corda toda” era o Mestre José Salgueiro, que não obstante as temperaturas superiores a 30º que convidavam a uma retemperadora sesta a que alguns não resistiram, Zé Salgueiro, com os seus 92 anos intensamente vividos, não se cansava de referir os benefícios das diversas plantas que conhece melhor que as palmas das suas mãos e que combatem a doença, preservando até a longevidade, como ele é exemplo paradigmático, que para além de alguma surdez, está activo em todo o seu potencial. Como falou a tarde inteira, focou os mais diferentes assuntos, nomeadamente a capacidade de algumas pessoas “eleitas” para assimilarem e fazerem uso dos sábios poderes da natureza, referindo-se mais especificamente ao famoso curandeiro Chico Vurtuoso, que ele conheceu desde miúdo, avô da amiga Manuela Rosa, outra grande amante da natureza – que precisamente nesta edição inicia uma crónica sobre ervas medicinais e de um texto exactamente sobre o Mestre Salgueiro, e que é autora de algumas das fotos desta “peça”. A Manuela Rosa estava nas “sete quintas” a fotografar borboletas e outros insectos e flores que vão certamente embelezar o suave blogue “fluir da terra”, de onde retiramos a frase e o poema que surge no programa para este passeio:
Incansável estava também o nosso companheiro da organização destes passeios, o Amigo e apicultor Alex Pirata que resolveu fazer umas acrobacias nas represas da ribeira a montante do Moinho do Conde e… que demonstrou excepcionais dotes para equilibrista. Também quem deu nas vistas e lhe foi solicitado discurso, no lanche realizado no Restaurante “O Chouriço” foi o Amigo Jesus, natural de Saragoça e companheira da AmigaVina (Etelvina Santos), que mantém viva a tradição da pintura no mobiliário tradicional alentejano e que iniciou na edição anterior uma crónica nestes páginas sobre a temática referida.

Depois de uma visita à Moagem, agora inactiva, que foi guiada pela proprietária Sisbela Carvalho, o passeio terminou no referido restaurante com um lanche tradicional patrocinado pela Junta de Freguesia local, onde esteve presente o respectivo presidente António Fitas, que mostrou o seu apreço por iniciativas como estas que praticam a valorização do património natural e humanizado do Alentejo, neste caso concreto do concelho de Monte Maior. Uma palavra também ao Município local que ajudou a divulgação e inscrição através do Posto de Turismo, assim como na feitura do flyer de divulgação, que mais uma vez apresentou uma excelente qualidade gráfica, nomeadamente com a escolha de belas fotografias. Ao responsával gráfico do trabalho, António Pedro, os nossos reiterados parabéns. Por parte da organização, de que assumimos conjuntamente com o Alex Pirata, para o ano haverá um novo passeio… pelo menos tão bom como este… e se for melhor… melhor será.


Ainda parece que estou a ouvir a voz do Mestre Salgueiro…

sábado, 6 de setembro de 2008

Aghmât: rosas para Al Mouhatamid e I'timad








Estou emocionado.

Peço para ficar só.

Este é um momento único.

O reencontro. Comigo mesmo. o reencontro com a essência da Vida: a Poesia, o Amor. Um momento onde só há lugar para a plenitude, para quem a sabe sentir. Quase mil anos de espera; a torre de menagem, altaneira, do castelo de Beja, a cidade que Al Mouhatamid viu 920 antes de mim, é testemunha. Percebi agora que esta era a minha peregrinação espiritual. Não apenas sentir o cheiro da Terra, que eu dizia precisar, antes desta viagem. Sentir o cheiro fresco do canavial, em ambos os lados da estrada que se aparta da principal - que segue para o luxuriante vale de Ourika, às portas do Atlas. É refrescante como as nossas hortas que rodeiam as cidades do Alentejo, como a horta onde vivi os primeiros contactos intensos com a natureza, na ribeira que atravessa a Funcheira, ou como as margens do Guadiana, onde talvez Al Mouhatamid se banhava na meninice, ou nas margens do Arade, onde na juventude cantava a Vida e o Amor. Ao anoitecer ouvem-se os sons dos diversos insectos, onde sobressaí o coachar das rãs, os grilos... no meio da dor e do sofrimento profundo, ao Poeta do destino, este deixou-lhe essas lembranças de um tempo distante, mas muito muito feliz. Era esse cheiro, esse sabor da Terra que precisava de sentir para continuar o meu trabalho. Encontrei-me a mim próprio. Agora sou um pessoa diferente. Encontrei a razão superior para continuar a subir a montanha. A Vida é feita de momentos sublimes, plenos como este, é feita também de dor, sofrimento, de percas... há quem fique pelo caminho, quem perca tudo por se amedrontar com a Plenitude, com a Felicidade, ainda que por breves instantes, como este, mas que são indispensáveis, imprescíndiveis para continuar ... momentos que nos dão a força suprema - nós, os que caminhamos entre a delicadeza da papoila e a ânsia da liberdade desmesurada da Liberdade que nos dá o Poder de luta, permamente, constante, em busca da Verdade. Será que existe?! acredito, acredito que sim... essa é a razão...

Vou continuar a subir a montanha.

O destino chama por mim.

Estou emocionado.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

as aves dos mares do Sul... partem

Há no sul um silêncio povoado de sons, um misto de cigarras, zibelinas, besouros, uma espécie de zumbido do tempo, por vezes rasgado pelo grito do milhafre.


Se fosse pintor, pintá-lo-ia sob a forma de um traço branco em fundo azul. Um risco, nada mais do que um risco.


(...)


São de senhor os modos. Como o silêncio do sul, também a voz de Janita Salomé é nossa companheira.


Assim fala Manuel Alegre sobre o disco Tão Pouco e Tanto


e Janita inicia com o tema do Manuel
"Paisagem com Homem"

Solidão é companheira
e de senhor são seus modos
Rei do céu de todos
e de chão nenhum

A sombra de uma azinheira
há sempre sombra para mais um

Abrigo-me numa azinheira que me dá sombra... na minha deambulação nocturno... em busca do Sul... abrigo-me da lua

ou est' outro tema, do Janita e de Carlos Mota de Oliveira, dedicado a Carlos Paredes

"Adeus Cal"


Adeus ,
cal.
Eu fico
por aqui
em cima
dos lençois.

Sou talvez
uma cama

espanhola
ou a lua.

Adeus,
muros.

Adeus,
cal.
Adeus.


Adeus...






... eu parto!





... com as aves, parto para o Sul...







... as cidades dos mares do Sul esperam por mim....

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Encontro com Caetano ... nos mares do Sul


"Você é linda"... "Menino do Rio"... "Leãozinho", era uma noite de Sol e luar... nos mares do Sul e o Caetano chegou sozinho, ajeitou seu violão e cantou e encantou-nos nestes temas, tantos e tão bonitos do nosso imaginário. E depois dedicou um tema em francês a um amigo, já desaparecido, que tanto gostava desse tema e lhe abriu as portas da Europa. E disse: "apetece-me outra vez", e cantou de novo, um tema lindo, num gesto lindo, tão bonito.





E depois brincou com a palavra Rio no feminino, porque estava ali ao lado das rias meridionais de Faro e Olhão e Tavira. E depois de nos deliciar naquela noite quente de uma leve brisa vinda do Mágrebe, já no encore cantou do seu último disco "Homem só tem inveja/da mulher/ da longevidade/e nos orgasmos múltiplos/e nos orgasmos múltiplos", todos os outros foram temas liricos, ternos , lindos, suaves, doces, ternos como ele com o seu jeito único de ser menino do Rio, como agradecia no palco, "Obrigado, muito obrigado", igualzinho como me disse, quando a meio da sessão de autógrafos, nossos olhares se cruzarem e lhe disse: "Quero oferecer-lhe este livro que fiz sobre a música portuguesa" e ele disse naquela voz de Sol e de luar, de tantas energias positivas sorrindo de vontade: "Obrigado, muito obrigado".
































Talvez um dia nossos olhares se voltem a reencontrar ... ou nunca mais, Menino do Rio.








E eu, parti na noite, indiferente aos adoradores, parti sozinho como marinheiro que sei que sou... o meu barco estava ancorado na baía... e dei comigo a pensar, eu que conheço meio mundo dos mares do Sul... que benção tão bonita foi estar ali, naquele dia, naquele porto, naquela cidade e concordei com aquela fã, talvez por outras razões, que dizia encantada: "você é lindo". ainda há pessoas bonitas ... neste mundo às vezes difícil, às vezes duro, às vezes cruel... mas tão cheio de beleza, tão cheio de momentos únicos e transcendentes de felicidade!




Você é lindo, Caetano!...




E depois rumei vários dias ao Norte, embora sempre ao encontro do Sul e do Sol, e, numa tarde de Sol soalheiro vi-me em PortosCale, na Ribeira, fumando o cachimbo da Paz, com o meu amigo Abdel, marroquino de Marraquexe e falando de tantos projectos comuns e de que "o que nos une é muito mais do o que separa".




e vi esta homenagem bonita à Mulher tripeira....

































































Novamente a caminho do Sul na bonita vila medival de Óbidos onde a ginginha é quase divina, e ....















que sabem os que me conhecem que não abdico de parar para saborear esse néctar, o que talvez seja uma desculpa para saborear de novo aquelas vielas e aquele castelo milenar onde a beleza e a harmonia da Vida me tem saudado duma forma tão bela e tão plena!...

















































Obrigado Sol!


Obrigado Lua!


Irmãos meus na caminhada da Vida!

Eu sou o marinheiro que embarco de novo, cheio da vossa luz divina para os Mares do Sul!


Até sempre!


Até à eternidade!

domingo, 8 de junho de 2008

Inquietação

basta-me um sorriso teu
e dou-te a vida em troca
Hâfiz



o espinho do teu amor feriu-me fundo na alma:
és o único roseiral por quem meu coração desmaia
Sa’adi


É sempre esta inquietação… inquietação, inquietação… cá dentro…que nos faz…

Porquê?!
Almoço apressado para partir para um recital para a Praça Giraldo, Évora. Mesmo assim não posso deixar de ouvir as lamentações de duas mulherzinhas na mesa ao lado… gerações diferentes, mais velha e mais nova do que a minha, todavia sincronizadas nas fúteis querelas familiares, mas pondo uma tal veemência na coisa, como se o mundo estivesse suspenso sobre uma decisão lá para alturas do Natal… que estranha inquietação, como me sinto insensível ao diz que disse e… fez ou não…
Porque razão acho estas coisas tão pouco interessantes… e aqui estou eu aqui a imaginar projectos, e a tentar concretizá-los: levar a beleza suprema que é a Poesia a muita gente, a milhares, dezenas, centenas de milhar - feito livro, feito roteiro, feito imagens projectadas ou representadas - porque não… aqui estou a querer reconstituir o que acho sublime e belo, a génese da nossa lírica, esses tempos idos de vidas vividas em toda a sua plenitude ou… destroçados… de vidas vividas entre o vida e morte, entre o Amor e o ódio, dos amores plenos, únicos: al-Mouhatami e I’timad, Pedro e Inês, ou Pablo e Matilde- já quase hoje ou hoje quem o soube ler nos “Versos do Capitão”…



E aqui estou eu perseguindo a beleza suprema, a Poesia libertadora, que fala quase só, sempre, só, de Amor… e aqui estou perseguindo a razão de viver, construindo os sonhos em que de início quase ninguém acredita… e descobrindo caminhos novos para ultrapassar as dificuldades quase homéricas… todavia, cantando ao Sol, enfrentado a tristeza, o baixar dos braços, o desânimo, a desistência – não só a minha – mas será que esta estranha inquietação nos permite deixar de lutar, nos permite desistir?! o fim , a destruição… aqui estou eu erguendo a voz em nome da dignidade, enfrentando a subserviência, a bajulação, a pequenez humana e intelectual que estão na ordem do dia… aqui estou eu, recusando a humilhação e não abdicando nunca de querer ser livre, não abdicando de sentir o vento no rosto, de falar ao Irmão Sol, à irmã Lua – de igual para igual, de saborear, beijar a terra gritando no montado a plenos pulmões libertando um som vindo, amordaçado do início dos tempos! Livre! Amar o mar e desafiá-lo, desafiando-me… não abdicando de mim mesmo, da luta diária e milenar, não abdicando naquilo em que acredito! Fazendo disso uma questão de Vida ou de morte, uma luta de Vida ou de morte, porque para mim só assim a Vida faz sentido doutra forma, não obrigado!!! Mil vezes não!!!


Claro que estas minhas inquietações, entre a Vida e a morte, o riso e choro, são coisas tão abstractas, são coisas comezinhas para aquelas duas mulherzinhas fúteis, tão vazias desta vida interior, desta minha inquietação, mas é aqui que se encontram as afinidades electivas, é aqui que encontram os grandes amores, o Amor: o que faz mover o mundo, o verdadeiro Amor, que é tão raro, tão único!

Claro que são tão abstractas estas minhas inquietações – tão estranhas, tão metafísicas “(Come chocolates, pequena;/Come chocolates (…)” diria Álvaro de Campos na “Tabacaria” mas esta estranha inquietação, como canta o Zé Mário, porque não sei, não sei… mas sei que essa coisa é que é linda!





aquele cujo coração não vive senão do amor
não morrerá jamais.

Hâfiz

terça-feira, 13 de maio de 2008

Abril em Maio: a “rola pousada no ombro de África” ou a secreta magia de Tânger

Apontamentos breves a viajar pelo Sul




Málaga e o Mediterrâneo

Comi sardinhas na praia, numa tasca ao ar livre, rodeado por uma fauna composta por turistas anglo-saxónicos e quadros superiores engravatados que nos seus fatos impecáveis usufruíam o Sol quente no período da siesta – da uma às cinco da tarde. Percebi melhor quando me trouxeram a conta. Mas que importava isso?! Estava a acontecer o meu reencontro pleno com o Mediterrâneo.









Começara com um passeio pela Alameda Principal, comendo nêsperas compradas no Mercado Central de Atarazanas, depois a Plaza de la Marna, a Avenida de Cervantes e o Paseo de los Curas, frente ao puerto. O Mar Mediterrâneo estende-se a perder de vista, azul esverdeado turquesa, este meu Mar milenar que tanto tem sido a bússola nas minhas viagens. Mas quando cheguei à praia fiquei emocionado, muito emocionado. Nesse momento em que dificilmente sustive as lágrimas, quis-te ali, comigo!...










Outro momento de muita emoção foi a subida, íngreme, sob um sol de fogo, a Alcabaza, iniciada por entre um lindo e suave jardim…





Tânger, a branca rola secreta










Estou sentado fumando e bebendo o delicioso chá de menta com hortelã no cimo de uma colina, da rola que está pousada no ombro de África. Tenho a Baía de Tânger a meus pés. Agora compreendo emocionado porquê talvez Tarik possa ter-se julgado frente à Atlântida.

















Levantou-se uma ligeira neblina frente a Gibraltar e a Tarifa. São quase cinco da tarde. Estou no Restaurante que tem a vista mais bonita sobre a Baía. Tem um certo ar colonial. É um local romântico, muito romântico.
Sou tratado como o Príncipe pelo empregado, que certamente adivinha que só aparentemente estou só. Quando me traz a conta recordo a deliciosa ementa: brouchettes de mouton. Hotel Dawltz. 110 dirhams. Dou-lhe mais 10. O preço de uma corrida de táxi.







Voltarei à Medina que percorri demoradamente horas a fio. Onde saboreei a secreta essência de Tânger. Onde me senti em “casa”, não obstante o meu ar demasiado claro, todavia sereno. Senti antes simpatia e sorrisos sinceros quando dizia ser português. Comprei tâmaras e depois de negociar durante quase meia-hora a aquisição de um objecto muito bonito, tirei todo o dinheiro que levava comigo e estava disposto a deixar um objecto pessoal - porque dali não saía sem a peça que queria muito – então o jovem artesão tiro-me delicadamente apenas o valor que me pedira, sorriu e… disse que era adepto do Porto - do Futebol Clube do Porto e… para eu ter cuidado para não me enganarem… quando afinal eu é que me enganara!
Percorri as praças, os terraços, os hotéis mais famosos e de subtil arquitectura e escultura, a Avenida cosmopolitas da Baía e Mohammed V… Adorei Tânger – cidade entre dois mundos. Mas nada comparável aquele dia em que estive na Medina… onde sei que vou voltar...






Como a Tétouan, ou aquelas aldeias perdidas algures nas montanhas do Rif, onde apenas passei…
Aquele restaurante mágico foi-me indicado por um empregado, vestido a rigor, do café de um cinema antigo – parecia regressado aos anos 50 - situado na praça que fica junto da magnifica Mesquita Sidi Bou Adib.



Nessa noite viajei para Sul e quando se aproximava a meia-noite, e no Gharb muitas vozes se uniam para cantarem a Grândola, eu, sem os meus companheiros de viagem perceberem, cantei para ti Cantigas do Maio